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[FP] Vicka Sky

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Mensagem por Convidado Seg Jun 10, 2013 9:21 pm

Ficha de Personagem


Nome: Victória Romano
Idade: 11 anos
Nacionalidade: Brasileira
3 Características Físicas: Alta, cabelos castanhos com as pontas vermelhas, olhos castanhos.
3 Características Psicológicas: Bipolar, agressiva, estressada.

Como descobriu ser um (a) meio sangue:

Eu estava olhando para a parede da minha sala de aula entediada e ignorando completamente o que o sr. James, professor de matemática falava. Prazer, sou Vicka Sky, tenho 16 anos, sou a excluída social da escola St. Emanuele Eugênio e a maior encrenqueira problemática que o mundo já conheceu.
Minha vida inteira não soube quem são meus pais, já que, de acordo com a diretora do orfanato em que vivo, minha mãe era uma esquizofrênica que tentou me matar, mas não conseguiu porque a polícia chegou e impediu, mas logo em seguida ela cometeu suicídio, roubando uma arma de algum policial e atirando na própria cabeça. Meu pai não aguentou as maluquices de minha mãe e fugiu de casa antes de eu nascer. Desde então, ou seja, desde o dia em que nasci, moro no orfanato Sunny Life para crianças difíceis e abandonadas e, definitivamente, eu sou uma criança difícil e abandonada. Não só pelos meus pais, mas por todos ao meu redor. Todos me evitam, de vez enquanto puxam uma briga para ver se me amedrontam, mas alguns narizes quebrados e pulsos torcidos resolvem meus problemas para com os valentões da escola.
Vocês devem estar se perguntando por que as pessoas me evitam. Pelo simples fato de que eu atraio a morte. No orfanato é permitido as crianças terem animais de estimação para compensar a falta de carinho maternal/paternal. Mas todos os bichinhos que eu já tive morreram e uma patricinha idiota e mimadinha pelos pais, que visita o orfanato obrigada pelo pai, para aprender a ser menos fútil e preconceituosa, fez o favor de espalhar para todo mundo essa feliz notícia! Eu tinha apenas dez anos quando comecei a ficar sem amigos. Quando fiz treze começaram os apelidinhos: Coveira, Ceifadora, Garota da Morte. Tinha que conviver com esses e muitos outros apelidos, até que, quando eu tinha catorze anos, um grupinho de garotos tentou puxar briga comigo então meu cérebro hiperativo só teve tempo de registrar quando eu parti para cima do maior valentão e dei um soco da cara dele e de ver outros caras saírem correndo com medinho.
Pelo visto eu não era a única com problemas em se concentrar na aula do sr. James, porque metade da turma estava dormindo, e o resto, estava preste a fazê-lo. Não há nada mais chato que as aulas desse cara. O professor tem uma cara mais feia que urubu, a voz dele é chata e enjoativa e ainda por cima ele fala cuspindo! É por isso que eu sento no fundo da sala, mais especificamente, na última cadeira da fileira do canto, perto da janela. Tenho pena de quem senta na frente, sério.
Senti uma bolinha de papel me atingir. Bufei e me abaixei para pegar o objeto. O ser inferior que fez isso a mim sofreria as consequências. Abri o papel, que visivelmente havia sido muito bem amassado. Olhei a parte frontal do bilhete e tinha um desenho de uma grande seta e embaixo assinado em letras garranchais um "Joey" bem grande.
Joey, ou melhor, o Garoto das Muletas, é único amigo que eu tenho. Esse cara não sai do meu lado de jeito nenhum. Conhecemo-nos faz um dois. A primeira pessoa com quem ele veio falar quando entrou na St. Emanuele Eugênio foi comigo. Sofria o mesmo tipo de tratamento que eu por ser deficiente físico. A primeira coisa que ele falou para mim foi um "oi" e eu dei um olhar ameaçador para ele que apenas riu. No intervalo voltamos a nos encontrar. Como sempre eu estava sentada sozinha na minha mesa e ele chegou perguntando se podia sentar. Olhei para ele, ameaçadora. Ele ignorou, puxou uma cadeira e comeu seu sei-lá-o-que. Continuei a ignorá-lo, mas, na hora da saída foi impossível fazer isso, porque ele fez o que ninguém jamais fez por mim: me defendeu de uma briga. Quando os valentões vieram para cima ele só deu uma muletada em cada um eles desmaiaram. Pegou detenção no primeiro dia de aula mas ele disse que valeu a pena e que fez aquilo para proteger uma amiga. Foi aí que nossa amizade nasceu.
Virei o papel e li seu conteúdo. Devido a dislexia levei alguns segundos até conseguir ler o que estava escrito. Na verdade, era o típico bilhetinho que eu recebia de Joey umas sete ou oito vezes por aula.
"Professor fazendo pergunta! Preste atenção!
Joey."

Olhei para frente e vi um sr. James com a cara fechada me encarando. Ele não me mete medo como faz com ou outros alunos, já encarei gente pior. Como por exemplo, Martin Taylor, diretora do orfanato Sunny Life e a pior bruxa que existe.
- Senhorita Sky, gostaria de se juntar a nossa aula e sair do mundo da Lua? - o sr. James perguntou impaciente e abaixei a cabeça me levantando e bufando.
Se bem que lá estava bem mais divertido, pensei com ironia.
- Ótimo! - ele exclamou com uma cara que não dava resquícios de que estava tudo "ótimo". - Senhorita Sky, poderia dizer qual a raiz cúbica de oitocentos e cinquenta e quatro vezes o valor de pi na figura no quadro?
Olhei para o meu relógio. Três minutos para a aula acabar. Se eu me fizesse de burra e não respondesse poderia sair livre dessa. Enrolei. Fingi pensar. E até arranquei risadinhas de uns e de outros contando nos dedos e fazendo uma cara de idiota e batendo a mão na testa ao perceber que os cálculos que fiz estavam errados.
- Poderia dizer logo a resposta, senhorita Sky? O nosso tempo está curto e...
O sr. James não terminou de falar porque o sinal tocou. Como sempre esperei todos saírem da sala para poder sair. Joey normalmente ia para casa comigo, mas hoje ele disse que tinha que fazer não sei o que com a namorada e eu teria que andar pelas ruas de Manhattan sozinha, de novo. O que não é nenhuma novidade. Sempre estive sozinha e sempre estarei. Nunca terei uma companhia.
Quando vi que Kemerol Kale, simplesmente o tipo de garoto que faz três em cada duas garotas suspirarem a cada cinco segundos, mas tímido, saiu, peguei minha mochila e me dirigi a porta. Passei pelo sr. James que, por incrível que pareça, estava com a cara mais feia e enrugada que o normal. Foi como se ele tivesse provado e não gostado de algo. Senti olhares dele sobre mim, mas pouco me importei. Já estou acostumada a ser olhada e julgada sem nem sequer me conhecerem.
Andei pelo corredor até o meu armário. Quando cheguei a sua porta, abri-o, peguei alguns livros e aos enfiei dentro da mochila. Já que não conseguia prestar atenção na aula a solução é autodidatismo. Peguei meu MP4 e escolhi uma música. Burn It Down, Linkin Park. Olhei para o corredor, já vazio, e me perguntei como aguentava o isolamento daquela forma. Como encarava aquilo de uma forma tão indiferente como se aquilo fosse normal. Não que eu esteja reclamando, não preciso de mais amigos do que o Joey. Mas, qualquer adolescente normal já teria entrado em depressão. A questão é: eu não sou uma adolescente normal. Eu sou Vicka Sky, a Garota da Morte de St. Emanuele Eugênio. A excluída social.
Ouvi uma voz, e, internamente, agradeci por isso, daqui a pouco já estaria entrado em depressão por pensar tanto naquilo.
- Preocupada com algo, senhorita Sky?
Olhei para trás e vi quem havia me tirado de meus devaneios. Sr. James. É só o que me falta!, pensei, Um professor de matemática chato e carrancudo no meu pé na hora da saída!.
- Professor, me desculpe por hoje. Eu realmente não estava a fim de responder. Só queria ir para casa mesmo – eu disse. Não preciso mentir, seria desperdício de saliva, é melhor dizer logo na cara.
- Não foi isso que ei vim falar com a senhorita – o sr. James disse.
- Então o que seria? – eu perguntei um tanto sarcástica e irônica. Já estava irritada.
– Você sempre quis saber quem são os seus pais, certo? – como ele sabe disso sobre eu ser órfã ou algo da minha vida? – E se eu tivesse as respostas para suas perguntas? E se você soubesse quem você é, de verdade ?
Eu estava sem fala. Como ele saberia de algo sobre meus pais? E como assim quem eu sou de verdade? Será que a minha vida não era problemática o suficiente?
A cara do sr. James começou a se contorcer e o seu corpo mudar. Em questão de segundos, o que eu via na minha frente era uma... uma... Argh! Qual o nome que a professora de história tinha dado a essa coisa? Quimele? Não. Quelimeli? Definitivamente não. Quimera? Sim. Quimera. Mas, como esse monstro, originário dos mitos gregos estava na minha frente e o principal, como esse troço pode ser o meu professor?
A quimera/professor estava se posicionando para atacar. Então esse era o fim para a Garota da Morte. Morta por uma coisa que possivelmente só ela está vendo. Se tivesse algum objeto de valor ou interessante, deixaria-o para Joey, mas assim como minha vida, tudo o que eu tenho é inútil e sem valor.
Quando eu pensei que daria tchau tchau para minha vida Joey apareceu do nada e deu uma muletada na quimera, que foi parar longe. Eu olhei para ele confusa, quase que implorando por uma explicação.
- Mais uma vez salva pelo Garoto das Muletas – foi tudo o que ele disse abrindo um grande sorriso. Mas ele logo fechou o sorriso e pareceu... farejar o ar? Uau. Eu tenho um amigo que consegue farejar o ar. – Continue correndo. A quimera já vai voltar – então ele começou a me puxar pelo corredor.
Até que para um cara que é aleijado, Joey corre bastante. Espera. Cadê as muletas dele? E, por que ele tem pernas de bode?
- Joey – eu chamei, ainda correndo. Anos de lutas e brigas por aí compensam quando você precisa correr para salvar a sua vida –, por que você tem pernas de bode?
Ele suspirou e disse algo como Por que todos os novatos perguntam isso? E finalmente resolveu me responder:
- Por que eu sou um sátiro.
- Mas...
Eu não terminei de falar porque uma bola de fogo passou zunindo acima de nossas cabeças. Cara, eu nunca estive tão ferrada quanto estava naquele momento.
- Bem na hora, Leo! – Joey gritou para alguém.
Eu e Joey continuamos correndo, o porquê eu não sei, já que a quimera/professor de matemática estava morta. Quando chegamos perto o suficiente consegui distinguir a aparência de com quem o Joey gritou. O garoto estava encostado na parede, com os braços cruzados e a cabeça abaixada. O típico boyzinho mimadinho com quem eu tenho que lidar todo o dia. Mas, diferente do estilo de roupa dos boyzinhos que eu lido, aquele garoto estava vestido com uma camiseta, suja de graxa tanto quanto o seu rosto e com as mangas rasgadas, escrito Acampamento Meio-Sangue. Usava suspensórios e uma calça jeans surrada em uma mistura de atualidade e década de quarenta, um estilo totalmente diferente dos caras mimados e idiotas que eu conheço, mas, digamos que, eu não me dou muito bem com eles. A sua pele morena denunciava a sua descendência latina. Ele era magricela, os cabelos eram cacheados, as orelhas pontudas e os traços do rosto eram finos, de modo que parecia um elfo latino.
Chegamos a porta da escola. O garoto estava encostado na lateral da parede, onde caso o portão se fechasse, ele provavelmente seria esmagado. Ele me encarou e me lançou um olhar divertido e um sorriso irônico e sarcástico que eu retribui com um dos meus olhares ameaçadores. Com aquele sorrisinho no rosto, se eu fosse dar uma rápida avaliada, colocaria-o na lista Mato assim que tiver oportunidade, porque não há nada que me irrite mais do que um sorriso sarcástico, e ele pareceu perceber isso, porque só aumentou o sorriso.
- Ah, Joey! Você só pode estar de brincadeira! – eu reclamei. – Primeiro o meu professor de matemática se transforma em uma quimera, depois você é metade bode e agora um elfo latino está na minha frente?! Só falta você me dizer que a Tinker Bell e o Peter Pan existem!
- Ei! – o garoto exclamou. – Eu escutei essa do elfo!
Lancei um olhar psicótico e assassino para assustar o garoto elfo que pareceu funcionar.
- Vocês terão muito tempo para brigar depois! – Joey nos repreendeu – Leo, onde está Argos?
- Em frente a escola. Do outro lado da rua. Será que você é cego? – Leo ironizou.
Fiz a minha melhor cara irônica e sorri sarcástica para o tal de Leo. Ele teria o tipo de resposta que merecia.
- Me desculpe se acabamos de ser atacados por um animal que nem existir deveria – eu disse e ele sorriu cínico. Já disse que odeio aquele sorrisinho?
Joey bufou. Pelo visto ele estava estressado. Não o culpo. Quem não estaria estressado depois de ter sido atacado por uma criatura mitológica?
- Vamos, antes que vocês se matem – ele disse sem ânimo e já saindo da escola.
Atravessamos a rua. Leo não parava de olhar para mim com um olhar louco e divertido, como se pensasse como o meu corpo funcionava e quais engrenagens especiais ele escondia. Não era como as outras pessoas, que me olhavam com desprezo, nojo e até medo de que se ficarem muito perto de eu acabem mortas. Ele me analisava, como seu eu fosse uma peça rara e necessária para algum projeto mecânico.
Chegamos até a vã. Joey estava tão desesperado que mal conseguiu abrir a porta. Eu entrei na frente e puxei a porta com tudo e BUM! Joey, Leo e todas as pessoas ao nosso redor ouviram o estrondo que eu fiz abrindo a porta. Como sempre, fingi que nada aconteceu e entrei no veículo. Leo entrou logo em seguida e fez questão de sentar do meu lado, que, por puro azar, eu estava no banco da janela, ou seja, presa ao lado deste ser. Joey foi no banco de passageiro, ao lado do motorista, mas antes fechar a porta, avisou:
- Não se matem.
Leo riu como se aquilo fosse uma ideia absurda, mas, sinceramente, achava bem possível disso acontecer. Revirei os olhos em um sinal de desprezo e rebeldia, que Joey conhece como uma confirmação de seu pedido quando eu estou de mau-humor. Quem quer que fosse que estivesse dirigindo deu partida um tanto apressadamente.
Por algum tipo de milagre eu ainda estava com meus fones. Escolhi outra música e comecei a escutar. Eu olhava pela a janela as pessoas andando por aí, pensando em suas, vidas, falando ao celular... Simplesmente tendo suas vidas normais enquanto eu estava sendo levada para algum lugar que nunca vi ou ouvi falar na minha vida.
Poderia ter pegado no sono ali, pensando nessas coisas ao som de Payphone, Maron5, se certo ser irritante não tivesse me cutucando freneticamente e puxado meu fone que eu pacientemente recolocava. Até que não deu mais e eu explodi, gritando bem alto para Leo:
- Será que dá para você parar?! Eu estou tentando me acalmar! Não basta você ficar quieto na sua e não perturbar ninguém não?!
Ele sorriu cínico. Tinha conseguido o que queria: minha atenção.
- Acho que tenho todo o direito de te encher a paciência e mexer nos seus preciosos fones de ouvido, já que você está segurando, soltando e arranhando a minha mão a mais de quinze minutos – ele replicou.
Olhei para baixo e vi nossas mãos próximas, e a dele estava bem vermelha, provavelmente por causa das minhas arranhadas. Mas o TDAH não me deixou perceber isso e muito menos parar. A mais de cinco minutos eu estava tendo um miniataque de hiperatividade na mão de Leo e ele nem sequer se importou com isso, apenas aguentou eu e a minha esquisitice e ficou quieto.
- Foi mal... – eu comecei, mas fui interrompida.
- Sem problemas – ele disse e abriu um sorriso. Mas não foi um sorriso louco ou analítico, como se eu fosse uma máquina, foi um sorriso sincero, feliz e... envergonhado? Por que ele estaria com vergonha de mim? – Acontece. Afinal – a expressão irônica e divertida voltou ao rosto dele –, Leo Valdez é irresistível!
Foi impossível conter um sorriso. Faziam quinze minutos que eu havia conhecido aquele garoto e faziam quinze minutos estava brigando com ele. Acho que desde que nos encontramos, aquele foi o único momento que não tentamos nos matar. Talvez eu consiga cativar alguma amizade com esse garoto e... Não. Quanto ele descobrisse sobre eu atrair a morte ele sairia correndo e começaria e zombar de mim. Mas estranhamente eu confiava em Leo. Tinha completa certeza de que poderia confiar a minha vida a ele. Talvez fosse só a primeira impressão que eu tinha dele ou talvez... não.
- Érr... você já pode soltar a minha mão – ele disse sem graça e abaixei a minha cabeça só para ver a minha mão segurando a de Leo. Senti minhas bochechas quentes. E vi outros daqueles sorrisinhos sarcásticos no rosto dele e PUFF! O momento maravilha entre Leo Valdez e Vicka Sky tinha acabado. – Você está vermelhinha! Own! Que bonitinho! – ele disse irônico.
Senti minhas bochechas ficarem mais vermelhas e a raiva me invadir. Qualquer um que zombe de Vicka Sky está cometendo suicídio e eu já estava devendo uma boa surra aquele cara pela ceninha na porta da escola. Ele iria se arrepender. E muito.
- Você quer morrer Valdez?! – eu vociferei.
Ele ria. Ria de o estômago doer, pelo visto, já que tinha as mãos fazendo força na barriga. Ele ia se arrepender de rir de Vicka Sky. Quando estava preparando meu soco, daqueles que se aplica toda força que se tem, a vã parou bruscamente, fazendo-me cair em cima de Leo, que caiu deitado nos bancos da fileira em que estávamos. Droga!, pensei. Por que só acontecem os piores tipos de coisa comigo?
Eu olhei em seus olhos e vi uma chama, incandescente e que parecia nunca se apagar, mas, ao mesmo, tempo, aquele era um olhar triste, de alguém que perdeu a família, que entende o sofrimento se ser sempre sozinho, de nunca ter ninguém então entendi que Leo usava o humor, as piadinhas e todo aquele sarcasmo e ironia para esconder sua dor e fugir do sofrimento. Ele era alguém sozinho, assim como eu, a diferença entre nós é que eu uso a violência para fugir de sentimentos e emoções tristes, que só me fariam sofrer.
- Me desculpa... – eu disse sem graça e saí de cima do garoto.
Depois que disse isso fiquei sem fala. Eu tinha caído em cima de um garoto. Definitivamente isso não estava na minha Lista de coisas a fazer quando se é sequestrada. Por que a minha vida tem que ser tão ruim? Por que eu não posso ter amigos? Por que eu não posso ter família? Por que eu não posso ser normal?
- Hey! – Joey gritou lá da frente. Me perguntei se ele tinha visto o que acontecera a poucos momentos. – Vicka, seu MP4 está atraindo monstros! Livre-se dele!
Vi um brilho no olhar de Leo. Mas não era o brilho que eu tinha visto momentos atrás, triste e compreensivo, de alguém que perdera a família, era um brilho travesso e divertido, de alguém que faria algo errado, mas que se divertiria com isso.
- Pode deixar comigo! – Leo gritou e pegou o aparelho da minha mão.
Ele abriu a janela e... Ah, não. Leo não faria isso.
Segurei sua mão no último momento. Ele não jogaria meu MP4 no meio da rua. É o único luxo que eu tenho. A única coisa que me acalma quando estou nervosa.
- Nem pense em fazer isso – eu disse perigosamente calma. – Sabe quanto trabalho deu roubar isso?!
- Me desculpe, mas é isso, ou nossas vidas – Leo disse um tanto desesperado. Eu assenti e ele jogou o aparelho pela janela. Só escutei o barulho dele se espatifando no chão. Leo sorriu, louco e divertido. – Tecnologia é como um farol para monstros. É por isso que não usamos nenhum aparelho eletrônico.
- O.K. Você jogou meu MP4 no meio da rua, a única coisa capaz de me acalmar e meu único luxo, está me levando para não sei que lugar e a sua simples presença me irrita. Eu quero explicações. Agora.
- Como eu posso explicar isso? – Leo colocou a mão no queixo como se pensasse alguma coisa. Como se algo se passasse naquela cabeça de vento. – Sabe toda aquela baboseira de mitologia grega, deuses, monstros e blá-blá-blá? – fiz que sim com a cabeça. Sabia de tudo sobre mitologia grega. História é a única aula que eu consigo prestar atenção. – Tudo isso é verdade, e, um de seus pais é um deus, ou seja, você é uma semideusa e fedor de semideus atrai monstro. O TDAH são reflexos de batalha e a dislexia é devido o seu cérebro estar programado para o grego antigo. Você entendeu?
- Mas como...
- ... isso é possível? – ele completou. – Acredite – Leo disse sorridente –, eu me faço essa pergunta todo dia! Agora, acho que começamos com o pé esquerdo. Vamos nos apresentar de novo! Olá, meu nome é Leo Valdez e eu sou um filho de Hefesto. O único que se tem conhecimento que controla o fogo. Antes que você pergunte, os filhos de Hefesto que controlam fogo são muito perigosos, por isso são muito raros. Sua vez! Se apresente! – Esse cara sempre muda de assunto tão rapidamente?
- Hã, érr... – o que eu iria dizer? “Oi, eu sou Vicka Sky a excluída social da escola St. Emanuele Eugênio”? Essa era a minha identidade até alguns momentos atrás. Agora eu era _____________. Filha de ____________. A _____________ do ________________. Minha vida virou uma sessão de lacunas incompletas que podem nunca serem completadas. – Eu sou Vicka Sky, e, hã, é... Na verdade eu não sei quem eu sou. A alguns minutos atrás eu era apenas a excluída social da St. Emanuele Eugênio, a Garota da Morte, mas agora...
- Espera aí! Como assim “Garota da Morte”? – Leo novamente me olhou como se eu tivesse engrenagens pelo meu corpo.
Por que eu tinha que abrir a minha boca e falar isso? Logo quando eu estava prestes a conseguir uma amizade! Mas talvez tenha sido melhor assim. Se ele ficasse muito tempo perto de mim poderia morrer e, eu não queria que isso acontecesse com esse cara. Talvez eu devesse contar logo e evitar que ele batesse as botas precocemente.
- Tudo o que convive por muito tempo perto de mim acaba morrendo – respondi como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, mas na verdade era isso que me fazia não ter amigos e, as vezes, fazia-me correr por dentro, até mesmo entrar em depressão.
Leo começou a me encarar confuso. Ele pareceu ter uma ideia e eu senti sua mão esquentar. Percebi que novamente estava segurando sua mão, mas não me importei desta vez, sabia que aquilo seria frequente e que não adiantaria tentar me controlar porque não adiantaria.
Ele fez menção de falar e, claro, que o olhar louco tinha voltado, ainda mais estranho do que antes.
- Isso. É. Tão. Legal! – O que? Ele acha que atrair a morte por onde quer que você passe é legal? Agora eu tenho certeza de que Leo Valdez é um louco tamanho gigante.
- Então você não vai sair correndo nem me desprezar? – eu perguntei com certo quê na voz.
- E por que eu faria isso? – ele retrucou. – Eu também não tenho pais nem família e afasto todo mundo simplesmente por existir. Só tenho meus amigos, mas Jason voltou para o acampamento romano e Piper mal me dá atenção, então... Voltamos a estaca zero. Sem família. Sem amigos.
- O Joey contou sobre eu ser órfã? – eu questionei.
- Sim. Na verdade, ele fez um discurso sobre como você era, aparência e personalidade. Tenho que admitir que quando ele disse sobre seus cabelos, e preferência de roupas, até mesmo seus olhos castanhos que variam do mel a um negro tão escuro quanto obsidiana, não imaginei que você fosse tão bonita! Mas erros acontecem! – ele disse divertido. – E vejo que preza um gosto por rock, pela camisa do Linkin Park dá para perceber isso.
Olhei para ele incrédula. Leo me acha bonita? Só não ri ali mesmo por estar em choque. A minha vida toda fui taxada de estranha, feia e morta-viva. Como aquele garoto pode dizer uma coisa como aquela? Claro. Não estava reclamando, mas foi meio surreal.
- Bem, sim. Eu adoro rock. Me acalma e me ajuda a pensar – respondi indiferente.
- E qual é a sua banda favorita?
- Ah, qual é! Isso agora virou um interrogatório?
- Sou eu quem faço as perguntas aqui, senhorita – Leo disse imitando a voz desses policiais de filmes antigos. – Agora, de verdade – sua voz tinha se estabilizado –, qual é a sua banda favorita?
- E para que você quer saber disso? – eu disse um tanto histérica.
- Custa responder uma pergunta de um amigo?
Ele disse amigo? Eu nunca tive um amigo, exceto Joey. Aquele garoto estava mesmo disposto a arriscar ser meu amigo? Essa é a minha chance. Estou indo para outro lugar, com outras pessoas. Talvez eu conseguisse amigos dessa vez ou talvez... não.
- Você está pedindo para apanhar... – eu disse ameaçadora.
- M-mas, o que o eu fiz? Eu só perguntei...
- Linkin Park – eu o interrompi. – Minha banda favorita é Linkin Park. Não está um pouco óbvio pela minha camisa? – perguntei irônica – O que não significa que eu não escute outras bandas, como Nickelback e Thirt seconds to mars, mas sempre rock.
Ele deu um leve sorrisinho de canto. Aquele desgraçado sempre conseguiria o que quer de mim? Até que isso é bom, de certo modo. Um idiota que pega fogo e uma estranha e atrai a morte. Isso não daria certo, mas... nada dá certo para mim mesmo, então não custa nada tentar ter uma vida de novo. É.
- Será que a minha mão é tão boa assim? – Leo disse em um falso tom de irritação. – Não que algo em mim não seja bom, mas... aí já é exagero! Tem que sobrar Leo para as outras!
- Agora você que você é meu amigo terá que aguentar as minhas esquisitices – eu disse e ele sorriu. Se Leo queria que fosse amiga dele ele conseguiu.
-Você disse amigo ? – ele perguntou irônico.
- Falei besteira – eu disse e ele sorriu.
Leo pareceu pensar alguma coisa e seu rosto assumiu uma expressão de quem queria testar alguma coisa. Não gostei nada daquilo, mas não me livraria dele fácil, ele não sairia do meu pé tão cedo.
- Me diz uma coisa – Leo disse e eu olhei para ele. – Você está nervosa ou com raiva agora?
- Bem, não sei – respondi pensando. Estava ou não nervosa?
- E será que eu posso te deixar nervosa? – ele perguntou.
- Acredite, você não me quer ver nervosa – eu brinquei.
- Então vamos começar! – ele disse – Primeiro você tem uma vida deplorável e sem amigos, depois uma quimera te ataca, logo após esse ocorrido, você é levada para dentro de uma vã que vai para qualquer lugar que você não sabe. Depois você me conhece. Se bem que essa não é parte a parte ruim.
Se Leo queria me irritar ele conseguiu. Eu respirei fundo. Contei até dez e nada, como sempre. O Valdez pediu para apanhar. Preparei meu gancho de direita e quando estava na metade do caminho para acertar aquele rostinho de elfo ele segurou meu punho, com certa dificuldade, pois o senti fazer um pouco de força para não deixar o soco chegar nele.
- Parece que eu consigo te acalmar – ele sussurrou.
Ficamos nos encarando por uns segundos, minutos, eu não sei, mas nunca me senti tão em paz quanto naquele momento. O estresse do orfanato, da escola... nada me deixa em paz por mais de dois minutos.
Leo encostou sua testa na minha, abriu um sorriso e perguntou irônico:
- Nem assim você consegue largar a minha mão?
- Acho que você não pode falar muita coisa, toda hora puxando o meu relógio – eu repliquei.
- É – ele simplesmente disse.
Nos afastamos e sentamos direito nos bancos. Olhei para a janela e pensei no que raios tinha acontecido aqui. O que estava acontecendo entre mim e Leo Valdez? Conhecia-o a menos de uma hora e ele já tinha conseguido quase ser assassinado duas vezes por mim e tinha conseguido me fazer sentir coisas estranhas duas vezes ao mesmo tempo em que quase morrera. A minha cabeça era um misto de raiva e amor. Espera aí. Amor? Não. Eu não posso sentir isso, não agora nem nunca, não por ele, nem por ninguém.
A vã passou por um quebra-molas e me fez, de novo, cair em cima de Leo, que dessa vez me segurou antes que eu caísse feio em cima dele.
- Acho que, oficialmente – ele sussurrou –, somos amigos.
Ou algo mais, pensei.
- Eu te odeio, Leo Valdez – eu disse em tom de brincadeira.
- Não precisa gritar para o mundo que me ama. Só eu saber já basta – ele replicou no mesmo tom.
Tentei me recostar no canto da vã, mas certo alguém não deixou. Ele abaixou a minha cabeça até o seu colo e começou acariciar meu cabelo e a me encarar.
- Por que você está...
- Shh – Leo me interrompeu. – Vamos aproveitar esse momento em que não estamos tentando nos explodir – ele disse e sorriu.
Acho que posso adicionar outro item a Lista de coisas que acalmam Vicka Sky:
Item número um: Rock e músicas agitadas.
Item número dois: Leo. Leo Valdez.
[/justify]
Faça um teste de ação aonde narre ao menos uma batalha com um monstro de sua escolha:
Acho que peguei no sono no colo de Leo, mas eu não acordei na vã e sim em um quarto, numa cama e com uma camiseta laranja em cima de mim. Sentei na cama e coloquei os meus pés no chão e desdobrei a camiseta. Ela era igual a de Leo, só que, obviamente, com as mangas inteiras. Pensei em me levantar, ir ao banheiro e colocar a tal blusa laranja, mas o problema é: eu não sei onde é o banheiro. Vasculhei aquele lugar com os olhos. Parecia um quarto de chalé, nem grande nem pequeno, com muitas camas e sacos de dormir no chão. Me perguntei o que estava fazendo ali então me lembrei. Monstros, deuses e elfos latinos. A minha vida inteira foi uma mentira. Fui enganada por todos, até mesmo por meu melhor amigo.
- A Bela Adormecida acordou? – eu ouvi uma voz ao meu lado perguntar com um quê de ironia.
- E o Príncipe Encantado não fez nada para acordá-la? – eu respondi sarcástica.
- Acredito que se o fizesse Leo me mataria do jeito mais tortuoso e doloroso que existe – a voz devolveu.
Cansei daquele joguinho de esconde-esconde. Virei a cabeça para o lado e vi um garoto sentado na cabeceira da minha cama. Ele tinha olhos azuis, cabelo castanho e feições finas. Ele sorria travesso e ficava me olhando, como se eu pudesse ter algo que o interessasse. Se fosse julgá-lo pela aparência diria que ele era um ladrão. As mãos jogavam uma bolinha freneticamente de um lado para o outro denunciando sua hiperatividade.
Olhei ao redor e avaliei a minha situação. Nenhuma arma disponível, nem mesmo para me defender.
- Calma aí! – o garoto disse e levantou as mãos, em uma segurando a bolinha que parecia ser de tênis, em um gesto de rendição. Sorriu, fazendo automaticamente seus olhos se fecharem – Não queira me matar! Na verdade, procurar uma arma é uma das primeiras reações de quem acorda aqui. Se você está se perguntando onde está, este é o Acampamento Meio-Sangue, mais especificamente o chalé de Hermes.
- O que vocês roubaram de mim? – eu perguntei desconfiada. Afinal, Hermes é o deus dos ladrões.
- Como você sabe que existem mais filhos de Hermes a não ser eu? Esquece. Isso não tem importância. E não roubamos nada de você, na verdade, você não tinha nada.
Suspirei aliviada. Mas, o que ele quis dizer com eu não ter nada? Droga! A quimera deve ter conseguido rasgar a minha mochila!
- Eu vou explicar como as coisas funcionam aqui – ele disse e saltou da cabeceira da cama e sentou do meu lado. – Acho que Leo já disse sobre os deuses monstros e blá-blá-blá, então vou direto ao ponto. Até seu pai ou mãe divino te reclamar você ficará aqui no chalé de Hermes, que não é um deus tão seletivo com quem pode ou não ficar em seu chalé, afinal, ele é o deus dos viajantes.
- E dos ladrões – acrescentei.
- Detalhes, detalhes... – ele abanou a mão em um gesto de “esqueça”. – Falando em chalés, existe um chalé para cada deus, menores e olimpianos e seus filhos devem ficar nos chalés de seus respectivos progenitores divinos.
- Só isso? – perguntei sarcástica.
- Hum... – ele pareceu pensar. – Acho que sim.
Estava quase me levantando e perguntando onde era o banheiro quando uma questão me veio em mente. Se ali era um acampamento será que eu poderia passar mais que só as férias? Se sim, eu poderia sair daquele inferno de orfanato e dar tchau tchau para professores chatos e tratamentos obrigatórios para TDAH e dislexia. Talvez eu conseguisse ser normal para o que seria normalidade para os padrões de semideus.
- Hã, érr, cara...
- Connor – ele me corrigiu. – Acho que não nos apresentamos – ele sorriu de novo e seus olhos fecharam, de novo. – Eu sou Connor Stoll, conselheiro chefe do chalé de Hermes.
- Hã, oi, meu nome é Vicka Sky e eu gostaria de saber...
Não consegui terminar porque alguém me interrompeu. Reconheci a voz como a de Leo Valdez, o elfo latino que pega fogo.
- Precisa melhorar seu jeito de se apresentar, Vicka – Leo disse e eu pude perceber o tom ironico em sua voz.
- E talvez fosse mais educado de sua parte não interromper uma pessoa no meio de uma conversa – eu repliquei no mesmo tom.
Leo entrou no chalé e eu me levantei da cama. Do jeito que aquele cara é, poderia deitar na cama onde eu estava e ficar me abraçando. Ele tinha um sorriso divertido no rosto e um olhar louco, totalmente diferente do Leo que tinha me enrolado e me acalmado da vã, mas não podia deixar de sentir uma sensação de segurança e conforto quando o via, ao mesmo tempo em que sentia uma raiva e vontade infinita de socar aquele rostinho de elfo até sangrar. O ditado “ódio e amor andam de mãos dadas” não é de todo mentira.
Eu fiquei de pé e Connor me acompanhou. Leo chegou perto de mim e seu sorriso vacilou ao perceber que o filho de Hermes tinha me visto acordar e, eu desconfio de que Connor ficou me observando dormir. Quando Leo viu que eu reparei que seu sorriso tinha vacilado e que ele parecia um pouco incomodado com o que descobriu, ele colocou um sorriso psicopata no rosto e pude ver as chamas brilharem em seus olhos.
Naquele momento, senti pena de Connor. Ele iria sofrer nas mãos de Leo. E muito.
O porquê daquilo tudo eu não sei. Eu não sou nada de Leo e ele está todo esquentadinho com Connor. Só faltava ele querer decidir quem seria meu amigo e quem estaria na “Lista de mortos ao falar alguma coisa com Vicka Sky”!
Leo passou a mão pela minha cintura em um gesto protetor e possessivo. Espera um momento. Leo está com ciúmes de mim? Por quê? Talvez ele se sentisse responsável por mim por ter me resgatado do inferno que chamava de vida, talvez fosse por sermos amigos e ele não queira perder minha amizade para um filho de Hermes. Bufei retirando-a. Connor fez uma cara maliciosa, mas que logo se desfez, provavelmente por causa do meu punho fechado e o meu olhar ameaçador. Leo passou a mão pela minha cintura de novo e eu tirei novamente. Connor ficou o olhando o vai-e-vem da mão de Leo, indo de minha cintura para o ar, ao lado de seu copo.
- Leo – eu o chamei, um tanto cansada daquilo –, será que vamos ficar nisso o dia inteiro?
- Só se você quiser – ele disse irônico.
Leo passou a mão pela a minha cintura e dessa vez eu não a retirei de lá. Se eu tirasse ele colocaria de novo e eu já estava ficando cansada daquilo. Dane-se o que Connor ou qualquer pessoa pensaria. Afinal, eu e Leo somos apenas amigos, certo?
- Vicka– Connor me chamou e eu desviei a minha atenção de Leo para o filho de Hermes. Mais alguns segundos e eu mataria aquele filho de Hefesto, ele controlasse fogo ou não. –, vamos. Tenho que te mostrar o acampamento.
Leo apertou mais a minha cintura e eu pude sentir sua mão esquentando. Sabia o que poderia acontecer, Leo me queimar e todo o chalé de Hermes. Imagine o caos. Campistas sem chalé, pertences importantes perdidos e possíveis mortes. Tentei me soltar, mas isso só fez ele me segurar com mais força. Maldito! , pensei. Leo começou a fuzilar Connor com o olhar que provavelmente já tinha entendido o que estava acontecendo. O filho de Hermes sorriu irônico e ergueu uma sobrancelha.
- Qual o problema, Valdez? – ele perguntou sarcástico – Está com ciuminhos da sua namorada nova comigo?
Connor só podia estar pedindo para morrer.
- Ela não é minha namorada – acho que pela primeira vez desde que conheci Leo eu estava concordando com ele.
Senti o corpo de Leo ficar quente, muito quente. Daqui a pouco estriamos em um princípio de incêndio. Entrei na frente dos dois antes que algo de ruim acontecesse.
- Vamos parar com isso! – disse em auto e bom som – Leo, deixe de ser estressado e Connor não provoca.
No mesmo momento em que disse isso, um garoto, um tanto parecido com Connor (diria que era seu irmão) entrou no chalé desesperado, suado e ofegante. Ele parecia querer dizer algo, mas parecia em choque para fazer isso.
O garoto segurava o que restava de um escudo e uma espada quebrada. Seja lá o que ele tenha enfrentado, era muito forte e eu tenho a impressão de que a coisa ainda não estava morta.
- Monstro... floresta... vindo... – o garoto tentou dizer, mas não conseguiu. Ainda estava em estado de choque.
- Calma, Mathew. Respire fundo, se acalme e conte-nos o que aconteceu – Leo esqueceu seu ciúme momentâneo e correu para ajudar o garoto.
- Um cão infernal apareceu no meio da floresta. Não estamos conseguindo matá-lo – o garoto disse mais tranquilo – Ele está vindo para cá, na direção do chalé de Hermes.
Não pensei duas vezes e saí correndo do chalé. Não por covardia e sim para proteger meus amigos. Não seria um super-cão gigante que machucaria quem Leo e meus prováveis (ou não) amigos ou os deixaria sem abrigo. Olhei ao redor. Desta vez, muitas pessoas olhavam para mim. Assoviei para um garoto que aparentemente tinha uns catorze anos e ele jogou uma espada para mim.
Ao longe vi uma mancha negra aumentando de tamanho a medida que se aproximava. Em questão de segundos eu pude ver um cão infernal do tamanho de um caminhão vindo em minha direção. Se fosse morrer, que seja protegendo meus amigos.
Oito metros. Cinco metros. Três metros. O animal se aproximava rapidamente. Olhei para as pessoas a minha volta e todas elas tinham sinais de batalha. Se umas vinte pessoas juntas não tinham tido chance contra um cão infernal daquele tamanho imagine eu, sozinha
- Vicka! – Leo me chamou. Eu não olhei para trás, as lágrimas já escorriam pelo meu rosto, não poderia demonstrar fraqueza na frente do outros. Pela primeira vez na vida fiquei com medo de morrer, mas não por medo da morte, e sim de deixar Leo e Joey para trás. – Saia daí! Vamos chamar Quíron, ele cuidará disso!
- Primeiro, Leo, quem é Quíron? – eu disse com a voz vacilante mas com o leve tom ironico. – Segundo, pelo que parece, esse cara resolve todos os problemas desse acampamento, não podemos depender dele para sempre. E se eu for morrer, que seja por meus amigos.
Naquele momento, o cão saltou para cima de mime eu desviei para o lado. Comecei a gritar para todos se afastarem e irem para seus chalés, eles já estavam fracos por causa da batalha anterior e poderiam morrer caso tentassem lutar de novo. Não queria que ninguém morresse. Se é para eu atrair morte, que a atraia para mim e não para as pessoas.
O cão investiu contra mim com a boca aberta. Entendi o que ele ia fazer. Tentei aparar seu golpe com a espada, mas ela quebrou e eu caí no chão. O cão aproximava sua boca do meu braço lentamente como se quisesse que eu sofresse a ansiedade da morte. Saber que iria morrer, mas que demorasse tanto. Então ele abocanhou meu braço e eu gritei de dor, mas não morreria ali por isso.
Passei a mão no chão em busca de uma espada e a minha senti uma coisa pontuda espetar meu dedo, provavelmente aquilo o furou. Mas isso não era nada comparado ao ferimento que estaria em meu braço depois que aquele cão infernal tirasse a boca dali. Estiquei as pontas dos meus dedos e consegui pegar a espada que descobri ser uma faca. A virei até conseguir pegar seu punho. Contei até três e perfurei a garganta do animal, mas nada aconteceu a não ser ele sair de cima de mim.
Olhei para o meu braço e tinham furos enormes e tão profundos que qualquer médico me internaria imediatamente. Sangue escorria em abundantemente dele. Senti minha visão falhar, mas sacudi a cabeça. Não poderia desmaiar ali. Não agora.
- Ei! Gênia! – escutei Leo Valdez gritar com ironia ao longe. – Você precisa usar bronze celestial para matar monstros, e isso inclui cães infernais.
Olhei para ele e fiz uma cara de confusa. Bronze o quê? Um dos campistas pareceu notar a minha confusão e assovio para mim. Eu olhei para ele e vi que era o mesmo que tinha me dado aquela primeira espada que se quebrara. Ele jogou outra espada para mim e eu a agarrei. Esfreguei minha mão tentando me ajustar a arma. O cão se aproximava lentamente. Quando ele saltou sobre mim com a boca aberta eu me joguei para o lado, fazendo-o prender os dentes em uma árvore. Me aproximei lentamente do cão que tentava desesperadamente soltar a boca da árvore.
Quando o cão conseguiu se soltar da árvore, sacudiu a cabeça, como se tentado afastar alguma sensação ou incômodo. Ele tinha perdido um dente naquela árvore. Se eu morresse, ele também teria perdido algo por minha causa.
Sorri friamente e senti a chuva começar a cair e o meu cabelo e tudo o que estava usando ficarem ensopados. Ergui a espada e vi o brilho no olhar do cão infernal, ele me olhava pedido perdão e misericórdia, como se não quisesse ter feito aquilo. Eu hesitei por um momento e meu sorriso frio vacilou, mas lembrei do que ele tinha feito com todas aquelas pessoas ao meu redor. Todos os feridos por causa dele. Com um pensamento raivoso e banhado em ódio tomei um último impulso com a espada e decapitei o monstro que, estranhamente, virou pó.
Antes que desabasse no chão, puxei o dente de cão infernal da casca da árvore. Puxei um fio de barbante do meu bolso e passei por um buraco que tinha perto da raiz do dente. Como cães infernais podem ter cáries? , pensei e ri com meu próprio pensamento bobo. Fiz um colar com o dente e o barbante, mas ao invés de colocá-lo no pescoço, coloquei-o na minha caneca, que, por incrível que pareça, não caiu da minha cabeça.
Senti minha visão embaçar e vi Leo ao longe correr até mim. Dei-me ao luxo de um sorriso. Desabei no chão, mas antes que caísse, Leo me segurou e tinha uma expressão preocupada no rosto. Continuei sorrindo e ergui a mão boa para ele que agarrou-a, como se eu fosse virar pó que nem o cão infernal que matei.
- Parece que eu não sou de todo inútil. E nem matei ninguém dessa vez – eu disse sorrindo.
- Sua louca! – ele disse preocupado – Você não matou ninguém, só quase si mesma.
- Foi por um bom motivo e...
- Nunca mais faça isso! Entendeu?! – Leo me interrompeu.
- Matar um simples cão infernal? Isso não foi nada! E sem falar que heróis quase morrem todo dia – eu disse e ri, o que doeu um pouco.
- Não importa! – ele disse e eu pude ver lágrimas escorrerem de seus olhos. – Me prometa que nunca mais fará isso! Não agirá sem ajuda nem sairá do nada agindo imprudentemente!
Leo me agarrou e começou a chorar em cima de mim. Sorri sarcástica e levantei minha mão para acariciar seus cabelos. Mesmo com a chuva e a cabeleira molhada, os cachos continuavam em pé, firmes e sem se renderem ao poder da chuva.
- Deixa de ser maricas – eu brinquei. – Já encarei coisa pior do que esse cãozinho de nada!
- Mas eu não quero te perder – Leo disse baixinho, mas alto o suficiente para eu ouvir. – Você é a primeira pessoa que encontro que me entende, que sabe o sofrimento de não ter ninguém. No momento, você é a minha única amiga de verdade.
Continuei sorrindo e acariciando os cabelos de Leo. Ele realmente precisa de mim, sem eu, ele poderia entrar em depressão e perder aquele seu humor estranhamente sarcástico, irônico e engraçado e eu não queria que isso acontecesse. Alguém tem que me fazer rir nessa minha vida sem graça e esse alguém é Leo Valdez.
Antes de desmaiar, reuni todas as minhas energias e disse em um fio de voz rouco:
- Você não vai se livrar de mim tão fácil, Valdez – senti ele dar um pequeno sorriso.
- Espero que isso seja verdade.
Quando senti que iria desmaiar, falei com tudo o que sobrara de minhas forças:
- Eu prometo, Leo Valdez.



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