Praia dos fogos

Desde que acabara meus maços de cigarro, minha vida se tornara deverasmente estressante e tediosa. Não sei ao certo se isso era uma crise de abstinência causada pela falta de cigarro ou quem sabe os dias estavam sendo mais cansativos, mas de uma coisa eu sabia com toda a certeza. Se eu não arranjasse uma cartela de cigarro ou um novo jeito de aliviar o estresse eu não aguentaria muito tempo sem um ataque de nervos, por isso decidi buscar novos ares e visitar lugares que eu até então não havia visitado. E o primeiro nome da minha lista era a praia, um dos lugares mais visitados do acampamento sem sombra de dúvidas, mas talvez por falta de tempo ou interesse eu nunca havia sequer passado perto de lá. Não que eu seja um novato, o contrário estava no acampamento a um bom tempo, mas a minha rotina era: arena, chalé, refeitório, arena, chalé, fogueira, chalé; ou seja tudo que eu conhecia no acampamento estava limitado a esses cinco lugares e aos caminhos que levavam até ele; por isso resolvi inovar e sair um pouco da rotina. Escolhi vestes leves e confortáveis para uma pequena caminhada pela praia e com sorte eu ainda poderia pegar o pôr do sol em tempo, o que me fazia lembrar inconscientemente da minha infância na região da Alta Normandia francesa, na qual eu esperava o tardar do dia todo os dias somente para ver o pôr do sol até quando me mudei para os EUA devido a uma promoção da minha mãe. Desvencilhei aqueles pensamentos da minha cabeça e saí do meu chalé, indo em direção a praia, sendo guiado apenas pelas placas direcionais que ajudava os campistas novatos a se locomoverem para o acampamento. Após andar um pouco, consegui chegar a praia alguns minutos antes do pôr do sol, então decidi andar pela praia; procurando alguém para conversar e distrair um pouco, até que encontro. A praia podia ser um dos lugares mais populares mas naquele momento não tinha quase ninguém, a única pessoa que encontrei era uma garota que parecia frequentar muito a praia, pois sua pele era tão pálida quanto a minha; possuía cabelos negros como a noite e com o olhar compenetrado no mar, talvez o suficiente para não reparar a minha chegada. Conforme eu fui chegando percebi que entre os dedos ela tinha algo, percebi também um cheiro estranhamente familiar, sem quaisquer dúvida ela tragava um maço de cigarro; quem ela fosse parecia que tinha os mesmos gostos que eu. Mesmo sabendo que talvez fosse extremamente chato atrapalhar alguém que queria ficar sozinho, resolvi conhecê-la melhor e ir acompanhá-la; vencendo a leve timidez fui.

▬ Posso te fazer companhia? ▬ pergunto a garota, tentando o máximo possível parecer amistoso. O que para um filho de Hades possa ser um tanto difícil, mas parecia que seria um sacrifício válido.
 

Após ouvir a resposta, me sentei do seu lado; não muito perto, mas também não muito longe. Nunca fui tão bom em me socializar com as pessoas, talvez por isso eu tenha tão poucos amigos; mas essa era uma das poucas vezes que me senti realmente com vontade de conhecer uma pessoa, me senti tentado a puxar papo; mesmo não tendo nenhuma experiência. Pensei tanto no que iria fazer, que esqueci de me apresentar devidamente.

▬ Sou Alec, filho do deus dos mortos. ▬ digo mantendo o meu olhar compenetrado, olhando o mar que parecia um tanto agitado; em seguida a fito observando os seus belos olhos. ▬ Se não for um tanto intrometido, é filha de ... ?

Por algum tempo, o silêncio reinou e o único som que se podia ouvir era das ondas que me pareciam um pouco agitadas e agressivas, não sei ao certo se era a minha imaginação; mas as ondas pareciam se aproximar cada vez mais e de um jeito perigoso. Fechei os olhos, desvencilhando esse pensamento idiota e vendo que as ondas estavam normais como em todos os dias e tudo não se passava da minha imaginação... espero. Por alguns minutos, a observei enquanto seus suaves lábios iam de encontro ao maço. Meus lábios pareciam secar, talvez era a crise batendo na minha porta novamente; até que não resisti e fui um tanto inconveniente.

▬ Por acaso não tem um maço para mim, é claro se não for se importar.

 

Agradeço com um sorriso de canto e pego o maço, não devia fazer aquilo; mas o cigarro há muito tempo passou de ser um desejo para ser uma necessidade, algo que mesmo se eu quisesse não conseguia mais controlar e nem ao menos queria. Como todo bom fumante, nunca saía sem o meu inseparável esqueiro e com uma certa habilidade acendo o maço e o levo de encontro aos meus lábios; em seguida sugando e segurando a fumaça posteriormente afastando o maço da boca, com o olhar fixo no mar. Ah, como aquilo era ótimo e revigorante. Rapidamente meu mal humor sumiu e uma sensação de tranquilidade e paz invadiu o meu corpo e me deixou com um humor melhor. Após alguns segundos, libero a fumaça que antes estava presa e a vejo subir lentamente; em seguida assoprando-a para longe.

▬ Acredita? Fui caminhar um pouco e acabei aqui, como vê sou um tanto distraído ▬ minto, ressentindo a reação dela ao descobrir o meu vício ▬ E você? Não me parece que tenha se perdido ▬ sorrio, em seguida tragando mais uma vez o maço.